quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Outro Lugar, por Valentina Tong


O trabalho começou com a vontade de fotografar, tendo a arquitetura como pretexto. Aos poucos, ele se tornou um questionamento sobre o que arquitetura significa para mim – como se vive um lugar, ao que ele remete, o que ele comunica para além da sua materialidade. Então a fotografia se transformou em pretexto diante da arquitetura.  

As obras aqui apresentadas têm a preocupação em criar uma percepção mais sensitiva, por meio da experiência espacial. A noção do percurso é fundamental ao analisar estes projetos, que se esforçam em proporcionar uma dinâmica de sentimentos a partir da proposição de mistérios, sensações físicas, contrastes de luz e sombra, simbolismos e volumes inusitados. Projetos que se referenciam e se dirigem ao individuo único, colocando-o como usuário ativo do espaço, que não se consolida, não se constrói unicamente pela visão, mas também pela vivência.

Nesse sentido, a representação se torna um desafio. Diante do edifício a fotografia pode apenas fixar sua imagem no tempo. Então, como falar sobre o transitório, sobre o tempo que envolve a arquitetura, suas transformações? Arquitetura não é natureza morta, imóvel como uma fotografia. Ela é dinâmica. Como retrato a minha aproximação, meu movimento, os percursos indicados pelo arquiteto e os percursos tomados? Como explicar sua atmosfera, sua cor, sua materialidade? Arquitetura não é só o edifício construído. É uma série de processos que envolvem um pensamento inserido em  uma determinada época, uma paisagem, uma cultura, um ideal – apoiada em processos humanos e técnicos que a precedem e a produzem. Uma imagem não poderá suprir a infinitude da arquitetura.

O desafio em fotografar é o da escolha. Escolha esta permeada nas questões da técnica e do pensamento racional, mas também na arbitrariedade dos acontecimentos e no acaso. Ao clicar, eu recorto, e deixo de ver tudo o que não cabe na minha foto. Me divido entre a minha sensação, a experiência do meu corpo no espaço, a minha subjetividade e o meu trabalho: parar, focar e fotografar. As imagens procuram comunicar esta fragmentação dos sentidos e das sensações, em diálogo com as próprias espacialidades propostas por estes arquitetos. Como pode a racionalidade e a precisão do projeto de arquitetura se transformar em espaço capaz de provocar tantas dúvidas e incertezas?

Diante desses limites, o trabalho registra e oferece um novo olhar – olhar este relativizado e desconfiado, que diante da incapacidade da fotografia de captar o todo espacial, pode ser liberado da necessidade de fidelidade e precisão da realidade. Seu objetivo é tornar visível as limitações e ambigüidades do olhar – tão próximo da razão – e propor uma outra maneira de organizar o espaço, mais próximo da emoção. Os edifícios são a minha referência para a criação de um novo espaço, as imagens produzidas são uma interpretação livre do que foi retratado.

É por meio das fotografias que pretendo estabelecer um diálogo com as questões próprias da arquitetura postas por estes projetos. Da mesma maneira que me coloco como intérprete de determinada situação – e faço surgir uma relação não só pela visão, mas pela experimentação do lugar –, aqui coloco as fotografias de um modo que seus observadores possam também experimentá-las. A relação surgirá por um questionamento e reflexão do que se vê, podendo levá-los a um outro lugar, que não necessariamente aquele retratado.
Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre - Álvaro Siza 


Casa da Música, Porto - Rem Koolhaas


Edifícios Zollhof, Dusseldorf - Frank Gehry
 

Capela Bruder Klaus, Mechernich - Peter Zumthor


 Cemitério San Cataldo, Módena - Aldo Rossi


 
Zentrum Paul Klee, Berna - Renzo Piano


 
Notre Dame Du' Haut, Ronchamp - Le Corbusier

 A exposição fica até dia 18 de dezembro, na Escola da Cidade.
Como mãe, sou suspeita para comentar, mas não posso deixar de dizer 
que estou orgulhosa. O trabalho, além de ter sido realizado com 
muita dedicação, é um trabalho sensível, que emociona.
Parabéns minha filha.

Escola da Cidade
R. General Jardim 65 
Até 18/12/2011 (todos os dias)
Das 14:00 às 20:00
 

5 comentários:

  1. Muito lindo esse trabalho, ele tem movimento, tem vida. Parabéns
    Elisa

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  2. concordo com voce. o trabalho ficou muito legal e também estou muito orgulhoso.
    bj
    joao

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  3. Fifi,
    eu estou completamente emocionada com o trabalho da Vale.
    beijo
    Socorro

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  4. Fifi
    Parabéns Fifi, fiquei muito feliz por ela e por você.
    Vou ver, com certeza, beijins
    Cris

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  5. belíssimo trabalho! parabéns pra valentina. dá pra imaginar e entender o orgulho da mãe :)
    beijos
    laura mansur

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